Espelho companheiro que vive
dependurado na fria parede de meu banheiro,
quantas vezes já não me viste?
Quantas vezes já não me vistes, em mil vestes, me vestir?
De quantas versões tão tristes as aversões já não reprimistes?
Tu, que demonstras de forma fiel minha imagem em pura cópia,
de nada tens culpa.
Se fosse eu árvore, mostraria árvore;
se fosse eu montes, mostraria montes.
Sou, no entanto, eu, e mostra-me eu.
De forma fiel, minha imagem em pura cópia
e de nada tens culpa.
Tenho eu, então, toda a culpa
pois a mim em ti não vejo.
Vejo baixo, reles, vil,
quando aponta para mim meus olhos
e o terror se apronta em mim.
Entenda pois, espelho amigo,
contigo não estou acabrunhado;
afinal é tentando ver a mim mesmo
que meu sobrolho fica carregado.
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