Derramo por ti diárias libações lacrimosas,
e a mim nada retornas, ó deus tão maligno.
Tu, que a todos compele, menos a mim, diga:
por que quanto mais devoto a ti sou,
mais odioso a mim tu és?
Sejais grato e reconheças tu o meu esforço.
Me diga, então, tu, ó deus, se és como o Amor,
que se faz mais escuro quanto mais é iluminado,
e que se codifica ao passo de ser decifrado.
Me diga:
que busca na devoção a simples vida vivida
de seu maior fiel,
em contraste à vida conduzida pela refrega do pensamento
de seu maior pecador?
Confirma, e serei temente.
Serei temente, pois já no amor falhei,
tentado nomear cada olhar, cada abraço,
cada gesto e cada palavra.
Confirma e restará a mim, enquanto temo,
arranjar pouso nas palavras tenras, doces,
e fatalmente solitárias,
que tudo podem explicar, mas nada podem amar.