A parte de mim que trabalha está tentando me matar... Já não leio mais, já não escrevo mais, já não me exercito mais, toda a força é involuntariamente reservada ao trabalho. Horas vagas de suposto descanso, dedicadas ao exercício do pensamento sobre o trabalho. Cansativo e corrosivo trabalho. Horas essas em que outrora minha vida fora construída, horas em que descobri onde ficavam escondidas as belezas da vida, nas quais aprendi a ser humano, me expressar, me conectar. Essas horas que eventualmente me levaram ao trabalho através de uma paixão pelo desenvolvimento diário de um ofício, horas essas que, nos primeiros meses de trabalho foram complementares ao exercício da profissão como objetivo de vida, horas essas que, juntas ao trabalho, me proporcionaram momentos de profunda autoanálise que me ajudaram a escalaram enormes píncaros de desenvolvimento pessoal. As coisas que eu gostava de fazer estavam alinhadas as coisas que eu tinha que fazer, e esse foi o problema. Tudo. Vira. Rotina. E rotina vira obrigação, e eu não me dou bem com obrigações.
Creio que os 25 anos de idade solidificaram a presença do tumor que constrói o cansaço no meu corpo e alma. Um cansaço quase que de tudo, quase que de nada, um cansaço geral que me acomete por todos os frontes em devastadoras debandadas, investidas mentais, blitzkriegs neurológicas, cansaço termonuclear, marasmo ultrassônico, moleza teleguiada. A sensação é mesmo de batalha, e batalha terrivelmente perdida. Meu "tesão" geral se manifesta como uma pequena nação que flerta com ideais comunistas e possui uma grande reserva de petróleo enquanto o cansaço se manifesta como um titã imperialista que irá causar a deposição do meu fogo vital enquanto elege o chato, senil e aborrecedor, Dr. Rotina o qual vive apenas pelas obrigações e necessidades capilares, dinheiro para isso, dinheiro para aquilo, decoro, formulários, elegância, polidez e todas as outras coleiras que vestimos orgulhosamente para os nossos pares admirarem e encontrarem consolo no fato de todos nós sermos obrigados a vesti-las. Aos 16 anos, eu já havia percebido isso mas não tinha como provar nem como por em palavras, hoje, no entanto, vejo tudo de dentro e percebo por fim que de fato, a vida é difícil.
São Paulo, 1 de Outubro de 2025
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