Irei salvar aqui trechos do ensaio "A poesia e o Microfone" de George Orwell publicado em março de 1945 no The New Pamphlet.
"Não há dúvida de que em nossa civilização a poesia é, de longe, a mais desacreditada das artes, a única, com efeito, em que o homem comum se recusa a discernir qualquer valor."(...)"A poesia não é vista com bons olhos porque é associada e ininteligibilidade, à arrogância intelectual e a um sentimento geral de domingo em dia de semana. Seu nome cria de antemão o mesmo tipo de má impressão que a palavra "Deus" ou um colarinho de pároco. Em certa medida, popularizar a poesia é romper uma inibição adquirida. É uma questão de fazer as pessoas ouvirem, em vez de emitir um apupo automático. Se a verdadeira poesia pudesse ser apresentada ao grande público de uma maneira que a fizesse parecer normal, como aquela porcaria que acabei de ouvir parecia presumivelmente normal, então parte do preconceito contra ela poderia ser superada."
"O problema é que, quanto maior se torna a máquina do governo, mais pontas soltas e cantos esquecidos aparecem nela. Trata-se, talvez, de um consolo pequeno, mas não desprezível. Significa que em países onde já existe um tradição liberal forte, a tirania burocrática talvez nunca chegue a ser completa. Os homens de calças listradas mandarão, mas, enquanto forem forçados a manter uma intelligentsia, esta terá certo grau de autonomia. Se o governo precisa, por exemplo, de documentários, tem de empregar gente interessada em técnica de cinema e precisa lhes dar o mínimo necessário de liberdade; em consequência, filmes completamente errados do ponto de vista burocrático terão sempre tendência a aparecer. O mesmo com a pintura, fotografia, redação de textos, reportagem, palestras e todas as outras artes e semiartes das quais um Estado moderno complexo precisa."
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