Nos tempos atuais em que a população carrega fortuitamente uma patologia do juízo e da opinião ouve-se muito a bizarra frase "separar a arte do artista". Isto é dito de forma tão corriqueira e natural que passou a ser aceitável imaginar a arte como um presente imaculado que surge dos céus fruto de uma gravidez casta.
A arte é arte de fato porque ela é produzida e, se é produzida é produzida por alguém: um artista. Arte é a materialização sentimental de um artista assim como o azeite é o óleo da azeitona, inexoravelmente não há arte sem artista assim como não há azeite sem azeitona. A arte é compreendida pela sensação e pelo seu contexto (quem e quando) o processo de consumir arte não deve ser possesivo, a arte não é uma faixa que você coloca no seu braço esquerdo e sai marchando pela Champs-Élysées, consumir arte é estar presente em uma galeria de janelas que lhe apresentam mundos e sentimentos terceiros a nossa própria experiência.
Arte não é um palavra que indica qualidade, bondade, limpeza e justiça. Pessoas incríveis chanceladas por um Nobel da paz não são automaticamente bons artistas e talvez não consigam produzir nada de valor artístico, pessoas horríveis podem ser artistas incríveis porque talvez são exímios em expressar seus sentimentos horríveis. Abandone a noção precária de que o artista é um ser humano ungido por Deus para representar a beleza do mundo.
Separar a arte do artista é trair o seu próprio senso crítico e moral, busque experimentar e ver tudo e saber sempre o contexto do que está consumindo, mas não fuja da experiência por causa das mazelas de quem as criou, leve as mazelas à sua compreensão da experiência. E se o problema é financiar um artista criminoso/problemático: pirateie, mas nunca deixe de experimentar.
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